As plataformas de mídia social amplificam interpretações pessoais e meias-verdades, muitas vezes ofuscando fatos com narrativas virais. Neste contexto, um grupo de estudantes universitários portugueses do Instituto Superior Técnico (IST) desenvolveu um sistema de Inteligência Artificial projetado para acelerar a verificação de fatos e ajudar a restaurar a confiança nas

informações.

O novo sistema replica todo o processo de verificação de fatos normalmente conduzido por jornalistas profissionais, condensando horas de trabalho em um prazo muito mais curto. Os usuários precisam apenas fornecer a declaração a ser verificada, e o sistema coleta automaticamente evidências relevantes, identifica informações de apoio e contraditórias e produz um veredicto acompanhado de um texto explicativo. Ao fazer isso, oferece uma ferramenta vital para lidar com a escala do problema atual de desinformação, onde as falsidades geralmente se espalham mais rápido do que as correções

podem ser publicadas.

A desinformação prospera rapidamente. As postagens virais podem atingir milhões em poucas horas, enquanto a verificação tradicional de fatos pode levar dias. No momento em que uma correção é emitida, a narrativa falsa geralmente se solidifica em verdade percebida. A verificação automatizada visa preencher essa lacuna, fornecendo aos jornalistas os meios para responder de forma rápida e decisiva antes que a desinformação se enraíze. O projeto já foi avaliado com a contribuição de centenas de jornalistas, garantindo que seus resultados sejam práticos e relevantes para ambientes de mídia do mundo real

.

No centro dessa iniciativa estão grandes modelos de linguagem, que geram conjuntos de dados para tarefas de verificação de fatos e simulam as etapas de raciocínio por trás da verificação. A abordagem não elimina o papel do julgamento humano, pelo contrário, o apóia. Os jornalistas continuam sendo essenciais para interpretar os resultados, aplicar o pensamento crítico e garantir que a credibilidade seja preservada. O que o sistema faz é reduzir a carga de tempo, permitindo que profissionais humanos ajam na velocidade que o ecossistema digital exige.

O projeto faz parte de um esforço mais amplo para explorar novas formas de explicação e personalização na forma como as informações verificadas são fornecidas. Estudos mostram que as gerações mais jovens são particularmente vulneráveis a narrativas falsas, dependendo muito de plataformas como Instagram e TikTok para obter notícias. Os métodos tradicionais de verificação de fatos geralmente não conseguem capturar sua atenção. Para esse público, adaptar o idioma, o formato e a entrega é crucial. A personalização das verificações de fatos pode ser fundamental para alcançá-las antes que a desinformação se transforme em crença.

Ao mesmo tempo, a iniciativa destaca o delicado equilíbrio entre tecnologia e educação. Embora a IA possa agilizar a verificação de fatos, há preocupações crescentes sobre seu impacto na cognição humana. A dependência excessiva de ferramentas automatizadas pode corroer as habilidades de pensamento crítico, levando ao que os pesquisadores descrevem como dívida cognitiva. Por esse motivo, a IA deve ser vista como um mecanismo de apoio e não como um substituto, enquanto a alfabetização midiática e a educação crítica continuam sendo pilares vitais na luta contra as

falsidades.

Em última análise, essa inovação ressalta o quão urgente se tornou o desafio da desinformação. Em um mundo onde verdades pessoais competem por atenção, muitas vezes desconectadas da realidade, a capacidade de verificar fatos de forma rápida e transparente não é mais um luxo; é uma necessidade democrática. O trabalho dos estudantes portugueses demonstra que a tecnologia, quando projetada e aplicada com responsabilidade, pode capacitar jornalistas, proteger os cidadãos e aproximar a sociedade de uma base compartilhada

da verdade.