Uma nova investigação sugere que a socialização pode ajudar a reduzir o risco de fragilidade numa fase posterior da vida.

Os investigadores da Universidade de Newcastle examinaram os dados de mais de 2000 homens com mais de 65 anos que foram avaliados com oito anos de intervalo.

Foram feitas perguntas aos participantes sobre a sua vida social, incluindo pormenores sobre o tempo passado com amigos e família, voluntariado, clubes religiosos ou sociais, férias e leitura.

Os resultados mostraram que aqueles com maior envolvimento social no início tinham um risco 31% menor de fragilidade, enquanto os que aumentaram a sua atividade social ao longo do período de oito anos viram o seu risco reduzido em 23%.

Estas descobertas mostram que as ligações sociais podem ter enormes benefícios para a nossa saúde física, especialmente numa fase mais avançada da vida, mas que efeitos pode ter o facto de nos mantermos ligados no nosso cérebro?

Falámos com o Dr. Steven Allder, neurologista consultor da Re:Cognition Health, que nos deu algumas informações sobre o assunto...

Será que manter-se social mais tarde na vida pode ajudar a retardar o declínio cognitivo?

"Manter fortes ligações sociais mais tarde na vida pode ajudar a retardar o declínio cognitivo, mantendo o cérebro ativo e adaptável", explica Allder. "Quando nos envolvemos socialmente, estimulamos várias regiões do cérebro responsáveis pela linguagem, memória, atenção e emoção.

"Esta estimulação contínua incentiva a formação de novas vias neurais, um processo conhecido como neuroplasticidade, que ajuda a preservar a função cognitiva e a resiliência à medida que envelhecemos."

Que impacto é que a socialização pode ter na nossa memória?

A socialização mais tarde na vida pode desempenhar um papel significativo no apoio e até mesmo no reforço da memória, diz o neurologista.

"Uma interação significativa envolve várias partes do cérebro em simultâneo, desde as regiões que processam a linguagem e as emoções até às que armazenam e recuperam informações", explica Allder. "Quando falamos, ouvimos e partilhamos histórias, estamos essencialmente a exercitar o cérebro, activando o hipocampo e o córtex pré-frontal, que são vitais para a formação e retenção de memórias. Esta estimulação contínua ajuda a manter as ligações neuronais e pode mesmo encorajar o crescimento de novas ligações.

"A investigação demonstrou que os adultos mais velhos com contacto social frequente tendem a ter um melhor desempenho em testes cognitivos e de memória, o que sugere que uma vida social ativa pode ajudar a preservar a agudeza mental e a retardar o declínio relacionado com a idade."

Créditos: PA;

A socialização pode ajudar a melhorar outros processos cognitivos?

"Para além da memória, a socialização apoia as funções executivas, como a atenção, a resolução de problemas e a tomada de decisões", observa Allder. "O contacto com os outros desafia o cérebro a adaptar-se, a processar rapidamente a informação e a gerir múltiplos estímulos, à semelhança dos exercícios de treino cognitivo.

"A atividade social regular ajuda a preservar estas competências, que são essenciais para manter a independência e o funcionamento diário."

O envolvimento social regular pode ajudar a reduzir o risco de demência?

O neurologista salienta que existem cada vez mais provas de que a participação social regular está associada a um menor risco de desenvolver demência.

"A interação social estimula o cérebro de forma muito semelhante ao exercício mental, mantendo os circuitos neurais activos e adaptáveis", explica. "Também ajuda a regular as hormonas do stress e a reduzir a inflamação crónica, ambas associadas a um maior risco de declínio cognitivo.

"As pessoas que mantêm relações estreitas e participam frequentemente em actividades sociais ou comunitárias têm mais probabilidades de se manterem fisicamente activas, mentalmente estimuladas e emocionalmente equilibradas, o que contribui para a saúde do cérebro a longo prazo. Embora a socialização, por si só, não possa prevenir a demência, constitui uma parte crucial de uma estratégia de prevenção holística, juntamente com uma dieta equilibrada, exercício regular, bom sono e aprendizagem ao longo da vida."

Que impacto pode ter a socialização no nosso humor e nos nossos níveis de stress?

As interações sociais positivas, especialmente as presenciais, desencadeiam a libertação de hormonas da felicidade, promovendo sentimentos de confiança, ligação e felicidade.

"A interação social positiva liberta oxitocina e endorfinas, hormonas que promovem o relaxamento, reduzem os níveis de cortisol e melhoram o humor", afirma Allder. "Sentir-se ligado também proporciona apoio emocional durante períodos de stress, protegendo o cérebro contra os efeitos nocivos do stress crónico, que é conhecido por prejudicar o desempenho cognitivo."

Poderá a socialização ter um impacto positivo na nossa saúde mental numa fase posterior da vida?

Manter uma vida social ativa em todas as fases da vida pode ter um impacto positivo profundo na saúde mental, afirma o neurologista.

"A interação regular com os amigos, a família e a comunidade proporciona apoio emocional, reduz a solidão e reforça o sentimento de pertença, que são essenciais para o bem-estar psicológico", afirma Allder. "As ligações sociais estimulam a libertação de neurotransmissores que melhoram o humor, como a serotonina e a oxitocina, que ajudam a regular o stress e promovem sentimentos de calma e felicidade. Também incentivam a existência de um objetivo e de uma rotina, dois factores fundamentais para manter a resistência mental à medida que envelhecemos.

"Os estudos mostram consistentemente que os adultos mais velhos que se mantêm socialmente envolvidos apresentam taxas mais baixas de depressão e ansiedade, maior satisfação com a vida e melhor qualidade de vida global em comparação com os que estão socialmente isolados."