Os presidentes das câmaras de Moura, no distrito de Beja, e de Reguengos de Monsaraz, Portel, Alandroal e Mourão, no distrito de Évora, reuniram-se na semana passada com a ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, a quem transmitiram as suas preocupações.
"Se o lago estiver cheio de painéis fotovoltaicos, isso penaliza necessariamente o tipo de turismo que o Alentejo quer e precisa", disse à agência Lusa a presidente da Câmara de Reguengos de Monsaraz, Marta Prates (PSD).
O presidente da Câmara de Moura, Álvaro Azedo (PS), disse à Lusa que o projeto "caminha para um prejuízo completo do que está a ser construído à volta da albufeira", aludindo à "dinâmica do turismo e do desporto e à preservação do elemento água".
O projeto é promovido pela EDP, que em 2022 venceu o leilão para a exploração de 70 megawatts (MW) de energia solar na albufeira de Alqueva, e está previsto para uma área da albufeira nos concelhos de Moura, Portel e Reguengos de Monsaraz.
Sem "valor acrescentado"
Nas suas declarações à Lusa, o presidente da Câmara de Moura defendeu que "estes investimentos fotovoltaicos não trazem qualquer mais-valia para os municípios, antes pelo contrário".
"Desenvolver a região não é levar os resultados do que o território oferece para Lisboa e para as grandes empresas, mas também disseminar os factores de desenvolvimento e os investimentos do Estado por todo o território", sublinhou.
Referindo que, só no concelho de Moura, a central fotovoltaica flutuante vai ocupar 40 hectares, Álvaro Azedo sublinhou que, numa determinada zona, a barragem "vai ter um corredor navegável".
"Isto vai arruinar completamente aquilo que também é transformador e tem sido um grande benefício para a região", sublinhou, alertando para o impacto negativo que os painéis solares terão na navegabilidade na albufeira.
O autarca de Moura lamentou ainda que os municípios não sejam consultados sobre estes projectos.
O presidente da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz salientou que estes municípios "já são constantemente assolados por todo o tipo de necessidades e mais alguma coisa" e optam por investir "nos produtos endógenos para os mostrar às pessoas e no turismo".
"Até há bem pouco tempo, Reguengos de Monsaraz vivia quase exclusivamente da agricultura e da viticultura, e agora já tem uma fatia muito interessante de receitas na área do turismo", com "muitas famílias a depender" do sector, referiu.
Beleza natural
Marta Prates argumentou que os turistas da América do Norte ou dos países escandinavos "são um tipo de visitante conhecedor que dá imensa importância à relação preço-qualidade", o que é incompatível com este tipo de projeto.
"Qualquer turista norte-americano não vai querer navegar no lago de Alqueva no meio de painéis fotovoltaicos. Para já, a beleza natural está arruinada, os passeios estão arruinados", acrescentou.
As cinco câmaras municipais solicitaram também uma reunião com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para expor as suas preocupações.
A EDP possui uma central solar flutuante na albufeira de Alqueva desde 2022, com cinco megawatts (MW) de potência, com 12 mil painéis solares a flutuar em quatro hectares da albufeira da barragem de Alqueva.








